quinta-feira, 17 de maio de 2012

Capítulo 29 - Sr. Darcy chega em Rosings


Capítulo 29

Sr. Darcy chega em Rosings
Sir William passou apenas uma semana em Hunsford; mas a sua visita bastou para o convencer de que sua filha estava magnificamente instalada e de que possuía um marido e uma vizinha como poucos. Durante o tempo em que Sir William permaneceu em Hunsford, o Sr. Collins consagrou-lhe as suas manhãs. Levava-o, em geral, a passear na sua jardineira, dando-lhe a conhecer a região. Quando aquele partiu, a família voltou às suas ocupações habituais e Elizabeth regozijou-se por não o ter tão constantemente na sua companhia, pois a maior parte do tempo, entre o pequeno-almoço e o almoço, ele passava-o agora trabalhando no jardim, lendo ou escrevendo e olhando pela janela da biblioteca, que dava para a estrada. A sala das senhoras ficava nas traseiras. Elizabeth, a princípio, estranhou que Charlotte não preferisse a salinha de jantar para uso comum, pois era maior e mais agradável; mas em breve compreendeu que a sua amiga tinha um excelente motivo para o que fazia, pois sem dúvida o Sr. Collins passaria muito menos tempo na sua biblioteca se elas escolhessem uma sala igualmente agradável.

Da salinha de estar não viam a estrada e ao Sr. Collins deviam a notícia das carruagens que surgiam e número de vezes que a Menina de Bourgh passava no seu faetonte, coisa que ele jamais deixa de anunciar, embora se tratasse de um acontecimento quase diário. Com frequência a Menina de Bourgh parava no presbitério e conversava alguns minutos com Charlotte, mas muito raramente condescendia em apear-se. Poucos dias decorriam sem que o Sr. Collins fosse a Rosings, e era frequente que sua mulher achasse seu dever acompanhá-lo; e Elizabeth só compreendeu o sacrifício de tantas horas quando se lembrou de que possivelmente existiam outros cargos eclesiásticos que dependiam da família. De quando em vez, Lady Catherine honrava-os com uma visita, e nessas ocasiões nada do que se passava na sala escapava à sua atenção. Ela observava as várias ocupações das raparigas, olhava para os seus trabalhos e aconselhava que os fizessem de modo diferente. Tinha sempre algum reparo a fazer sobre a disposição dos móveis, ou descobria alguma negligência da criada. Se ficava para alguma refeição, não perdia a ocasião de observar que as porções da Sr.a Collins eram grandes demais para a família.

Elizabeth em breve descobriu que esta grande senhora, embora não fosse investida dos poderes de juiz de paz para o condado, desempenhava na sua paróquia as funções de magistrado muito activo e nada se passava que ela não desse a conhecer ao Sr. Collins; e, quando algum dos aldeões se mostrava quezilento, descontente, ou caía na miséria, ou quando surgia uma contenda, ela acorria à aldeia, a fim de pôr termo às questões, silenciar as queixas e harmonizar as disputas e as desgraças com reprimendas e dinheiro.

Os jantares em Rosings tinham lugar duas vezes por semana e, não fosse a ausência de Sir William e o facto de apenas se formar uma mesa de jogo, não passariam da repetição exacta do primeiro. Os seus compromissos sociais montavam a pouco mais do que isto, pois o gênero de vida das famílias da vizinhança estava, em geral, para além dos meios da família Collins. Elizabeth não se ressentia com isso e, em suma, passava o tempo muito agradavelmente. Entretinha-se a conversar com Charlotte e, como fizesse um tempo excepcionalmente bom para aquela época do ano, encontrava grande prazer nos passeios ao ar livre. O seu passeio de eleição, que em geral fazia enquanto os outros visitavam Lady Catherine, era no bosque aberto que limitava aquele lado do parque, onde havia uma pequena alameda coberta que ninguém mais parecia apreciar e onde ela se sentia protegida da curiosidade de Lady Catherine.

Deste modo tranquilo passaram os primeiros quinze dias da sua visita. Aproximava-se a Páscoa e a semana que a precedia traria uma pessoa a Rosings; e, numa família tão pequena, tal acréscimo não deixava de ser importante. Pouco depois da sua chegada, Elizabeth ouvira dizer que o Sr. Darcy era esperado em Rosings daí a poucas semanas; e, embora ela preferisse qualquer outra pessoa do seu conhecimento, a chegada do Sr. Darcy contribuiria para o aparecimento de um rosto de certo modo novo nos jantares em Rosings. Além disso, ela teria ocasião de observar a atitude dele para com a sua prima, a quem ele estava, evidentemente, destinado por Lady Catherine, e até que ponto eram infundadas as esperanças da Menina Bingley nele. Lady Catherine falava na sua vinda com a maior satisfação, referia-se a ele nos termos mais elogiosos e quase se zangou ao saber que a Menina Lucas e Elizabeth já o conheciam.

A noticia da sua chegada imediatamente chegou ao presbitério, pois o Sr. Collins passou a manhã inteira passeando perto dos portões do parque, a fim de não perder o acontecimento. Quando viu surgir a carruagem, ele fez uma profunda vénia e correu para casa. Na manhã seguinte tomou desde logo o caminho de Rosings, a fim de ir apresentar cumprimentos, função esta que ele fez a dobrar, pois eram dois os sobrinhos de Lady Catherine. O Sr. Darcy tinha trazido consigo o coronel Fitzwilliam, o filho mais novo de seu tio, o Lord; e, para grande surpresa de todos, quando o Sr. Collins voltou a casa tinha a acompanhá-lo os dois cavalheiros. Charlotte, que os avistara da janela do quarto do Sr. Collins, correu para o pé das outras e avisou-as da honra que as esperava, acrescentando:

- E a ti se deve, Eliza, este gesto de amabilidade. O Sr. Darcy não viria aqui tão cedo por minha causa.

Elizabeth ainda não tivera tempo para protestar contra tal homenagem, quando a chegada dos cavalheiros foi anunciada pela campainha da porta, que pouco depois fizeram a sua aparição na sala. O coronel Fitzwilliam, que entrou primeiro, aparentava ter aproximadamente trinta anos de idade; não era belo, mas nas atitudes e nos modos mostrava-se um verdadeiro senhor. O Sr. Darcy não mudara. Apresentou os seus cumprimentos à Sr.a Collins, com a reserva habitual, e, quaisquer que fossem os seus sentimentos para com a amiga da dona da casa, ele cumprimentou-a discretamente.

Elizabeth respondeu-lhe com uma ligeira vénia, sem pronunciar uma só palavra. O coronel Fitzwilliam encetou imediatamente conversa, com a simplicidade de um homem bem educado. A sua conversa era muito agradável; mas seu primo, após ter dirigido uma ligeira observação sobre a casa e o jardim, guardou silêncio durante algum tempo. Por fim, achou-se na obrigação de perguntar pela família de Elizabeth. Esta respondeu-lhe com a costumada simplicidade e, após uma curta pausa, acrescentou:

- Minha irmã mais velha esteve em Londres estes últimos três meses. Acaso não a encontrou?

Ela sabia perfeitamente que ele nunca a poderia ter encontrado; mas pretendia ver se ele trairia alguma consciência do que se passara entre os Bingleys e Jane.
Pareceu-lhe, de facto, discernir uma certa perturbação no Sr. Darcy, quando ele lhe respondeu não ter tido a felicidade de encontrar a Menina Bennet. O assunto não tornou a ser mencionado e pouco depois os dois cavalheiros partiram.

Nenhum comentário:

Postar um comentário